Seduction
Poetry catches me with her toothed wheel
and forces me to listen stock-still
to her extravagant discourse.
Poetry embraces me behind the garden wall, she picks up
her skirt and lets me see, loving and loony.
Bad things happen, I tell her,
I, too, am a child of God,
allow me my despair.
Her answer is to draw her hot tongue
across my neck;
she says rod to calm me,
she says stone, geometry,
she gets careless and turns tender,
I take advantage and sneak off.
I run and she runs faster,
I yell and she yells louder,
seven demons stronger.
She catches me, making deep grooves
from tip to toe.
Poetry’s toothed wheel is made of steel.
.
by Adélia Prado
from The Alphabet in the Park
Wesleyan University Press, 1990
Original Portuguese at “Read more”
Sedução
A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta de pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.
from Bagagem, Editora Imago, 1976